-O mar, por mais lindo e brilhante que seja, não nos traz as respostas de que precisamos nas suas ondas. Temos de as descobrir em nós próprios.
Maria não sentira que alguém se tinha sentado ao seu lado.
- Desculpe, mas não o conheço.
- Eu também não a conheço a si. Mas achei que estava demasiado crente de que o mar lhe trará as respostas que tanto procura. E ele não lhe trará mais nada que água.
- Mas o que está para aí a dizer? Quem lhe disse que estou à procura de respostas? - Maria estava cada vez mais receosa. Não conhecia aquele homem de lado algum.
- Ninguém me disse. A ansiedade que os seus olhos revelam mostraram-me isso. Mas não devia procurar as respostas de que precisa nos outros, mas sim em si própria.
- Mas quem é o senhor afinal? E porque está tão preocupado comigo?
- Miguel Santos. Mas isso é o menos relevante. Passeio por aqui há demasiados anos para saber quando alguém está a precisar de conversar.
- Obrigado, mas não precisa de se incomodar. Eu estou muito bem. Mas o mar acalma-me e traz-me a paz de que eu tanto necessito.
- Realmente, o mar não pode berrar aos nossos ouvidos quando está zangado nem chorar quando somos nós a gritar com ele... mas também não nos pode dar umas palavras de apoio quando mais precisamos... Devia procurar os seus amigos. Eles também têm o poder de nos acalmar.
- Amigos? Não sei o que isso é. Há muito tempo que deixei de os ter. Não acredito na existência da amizade verdadeira. Já acreditei, mas isso foi há muito tempo.
- Por muito que alguém a tenha magoado, a amizade é o mais nobre dos sentimentos. O mundo não existiria sem amigos. São eles que nos apoiam, que nos estendem a mão, que nos seguram qunado tropeçamos. Não deixe de acreditar nisso.
Neste momento, Maria olhava o mar ainda com mais ansiedade. Ansiedade de querer (re)acreditar no que estava a ouvir.
- Miguel, obrigado por todas essas palavras, mas a vida não é assim tão simples. Há problemas insuperáveis, e, nesta fase da minha vida, só posso contar comigo mesma. O mar é o melhor amigo que tenho. Já agora, sou a Maria.
- Tenho pena que se sinta assim, Maria. Por maiores que sejam os problemas que tenhamos de enfrentar, há sempre uma solução; temos é de tentar encontrá-la dentro de nós, não podemos esperar que ela apareça por si só. Não pde desistir de encontrá-las. Estará a desistir de si.
- Já todos desistiram de mim. Porque não hei-de eu fazer o mesmo?
Levantou-se, pegou nas suas sandálias de couro, e caminhou por mar adentro. Afinal, estava com o seu melhor amigo.
[texto escrito para a Fábrica de Histórias!]